sexta-feira, 29 de maio de 2009

Notas sobre turismo sexual

"As imagens e depoimentos passeiam entre o romantismo e a perversidade. Cinderelas, lobos e um príncipe encantado, documentário do cineasta mineiro Joel Zito Araújo sobre o mundo do turismo sexual no Brasil, estreia hoje em Fortaleza."
Angélica Feitosa

Menina de 13 anos levada pela mãe ao Instituto José Frota, em Fortaleza, após ser agredida por um cliente/explorador: a garota faz da BR-116 o ponto da própria exploração, na venda do corpo imaturo. Em Natal, uma jovem passeia de mãos dadas com um estrangeiro, enquanto conta para a câmera que, em breve, viajará para fora do País, mas com outro pretendente a marido. Em Berlim, ao som de Fascinação, bailarina mulata samba na ponta do pé, maiô fio-dental, para plateia de nativos germânicos. Todas são negras. O retrato é similar em boa parte das capitais do Nordeste ou com alguma ligação com a região. De tão comuns e banalizadas, chegam a ser vistas como passividade e até permissividade.

O documentário Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado, do cineasta mineiro Joel Zito Araújo, vem para lembrar que é com olhos de estranhamento que essas imagens precisam ser observadas. Isso sem julgamento. A alusão aos contos de fada não poderia ser mais apropriada. O longa nos dá uma significativa amostra dessa rede de sonhos, ilusões, exploração e terror, com alguns espasmos de final feliz, do turismo sexual brasileiro. Em Fortaleza, Natal, Recife e Salvador, Joel Zito entrevistou boa parte dos envolvidos na teia da prostituição: mulheres, homens e travestis que trabalham como garotos e garotas de programa, mas também taxistas e, principalmente, estrangeiros. Em Berlim e em Roma, o diretor também encontrou dançarinas de vários estados do Norte e Nordeste, empresários que costumam visitar o Brasil e casais formados por alemães e brasileiras.

Apesar de não ser o foco do documentário, a questão racial está no cerne da discussão. “Encontrei um dado que ajudou a guiar o documentário: 75% do objeto de desejo do turista estrangeiro são afrodescendentes. Obviamente, isso vem embutido, sobretudo do ponto de vista delas”, conta o documentarista, em entrevista ao O POVO, por telefone. Se os estrangeiros dizem que as negras são mais simpáticas e ao mesmo tempo “quentes” ou soltas sexualmente, essas mulheres confirmam o estereótipo. “Isso é um dos poucos pontos que eleva a autoestima delas. Quanto mais negróides, mais elas serão vistas como feias e não desejáveis no Brasil”. No olhar do estrangeiro, elas percebem que existe uma valorização de suas estéticas. Isso é visto com segurança por essas mulheres. Ao mesmo tempo, dizem não querer casar com um homem de sua cor de pele. “Para limpar o sangue”, chega a afirmar uma das entrevistadas. A dúvida que fica é se essa lascividade não estaria mais perto de uma permissividade. Se, pela autoestima baixa, elas não permitiriam qualquer tipo de situação, mesmo que agressiva ou contra suas vontades.

No documentário, Joel Zito mostra relações que têm no centro a questão financeira e a carência afetiva. A lógica é completamente fora do amor romântico. Muitas delas dizem que não importa com quem possam casar. “Quanto mais o homem paga a gente, mais a gente se apaixona”, conta num depoimento hilário, uma travesti entrevistada no documentário.

Como entrevistador, Joel Zito se destaca. É direto e incisivo, sem ser desrespeitoso. Tem sensibilidade e questiona no momento certo. “Algumas vezes, elas se entregaram demais, revelaram fatos muito íntimos e eu, por respeito, decidi não colocar. Já com os estrangeiros, expus realmente suas contradições”, compara. Um desses homens, um italiano, condena a política de turismo sexual, embora confesse que seja um de seus usuários minutos depois.

O diretor optou por investir num tom nem sempre pesado. Os momentos mais leves estão na parte final, quando o diretor entrevista brasileiras casadas com alemães e apresenta os choques culturais da relação, inclusive de maneira divertida. “São poucas as histórias bem-sucedidas, mas elas existem. Uma jornalista me perguntou o porquê de o filme acabar com uma história feliz, de casamento. Ora, por que as nossas amigas de classe média podem se casar com estrangeiros e serem felizes e as meninas pobres não?”.

EMAIS

- Joel Zito Araújo é professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), autor de A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira (2000), livro e documentário resultado de sua tese de doutorado que forma um inventário da participação e importância de atores negros em produções que vão de 1963 a 1997. Joel Zito fez pós-doutorado no departamento de rádio, TV e cinema e no departamento de antropologia da University of Texas, em Austin, nos Estados Unidos.

- Dirigiu As Filhas do Vento, primeiro longa-metragem de ficção do diretor, com elenco todo negro. Recebeu seis prêmios no tradicional Festival de Gramado, inclusive melhor filme, diretor e prêmio de crítica.

OUTROS DOCUMENTÁRIOS: > São Paulo abraça Mandela (1991), > Retrato em Preto e Branco (1993), > Ondas Brancas nas Pupilas Pretas (1995) > A Exceção e a Regra (1997)

Confira essa materia no site:
http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/881072.html

Doc. Cinderelas, Lobos e um prícipe encantado - de Joel Zito Araújo

Cerca de 900 mil pessoas são traficadas pelas fronteiras internacionais a cada ano exclusivamente para fins de exploração sexual. Entretanto, apesar de todos os perigos, jovens mulheres brasileiras ao entrar no mundo do turismo sexual acreditam que vão mudar de vida e sonham com o seu príncipe encantado. Uma minoria até consegue encontrar um grande amor e casar. O filme vai do nordeste brasileiro a Berlim buscando entender os imaginários sexuais, raciais e de poder das jovens cinderelas do sul e dos lobos do norte.

Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado participou Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro – Premiére Brasil 2008; 5º. Festival de Cinema de Arte – Salvador, Bahia. Out/2008; FIC - X Festival Internacional de Cinema de Brasília. Novembro 2008. Premio “Menção Honrosa”; Filme de Abertura da – I Mostra Internacional de Cinema sobre Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes – Rio de Janeiro – Novembro 2008. Organizado pelo III Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes; II Encontro de Cinema Negro Brasil-África-América Latina. Rio de Janeiro- Nov.2008; FESPACO – Burkina Fasso. Fev-2009.

Criador e diretor dos filmes A Negação do Brasil (vencedor do É Tudo Verdade 2001) e Filhas do Vento (8 kikitos no Festival de Gramado 2005), Joel Zito Araújo realiza documentários desde 1988. Autor dos livros “A Negação do Brasil – o negro na telenovela brasileira” e “O Negro na TV Pública” (no prelo), e vários artigos sobre a mídia e a questão racial no Brasil. Doutor em Ciências da Comunicação pela ECA /USP.
Vamos assistir gente.
Vale a pena.
Garanto!!!!!!!!


Assista o trailer aqui abaixo:


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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Matriarcado no Candomblé

Em África, era comum mulheres participarem do Conselho dos Ministros. Elas tinham organizações próprias e lideravam um intenso comércio que incluia rotas internacionais. Foi por isso, que na Bahia, a partir século XIX, elas conseguiram o que parecia impossível. Deram à luz a uma Organização religiosa, que conciliou tradições de diferentes povos da Diáspora Africana, resistindo à escravidão e a perseguição policial, com diplomacia, inteligência e fé.

Esta produção é uma Grande-Reportagem produzida por Urânia Munzanzu, Vilma Neres e Lívia Machado, estudantes de Comunicação Social (Jornalismo), através do Centro Universitário Jorge Amado. Uma produção pensada para a disciplina de Telejornalismo II, sob orientação da Mestra Silvana Moura.

Salvador, maio de 2009



http://www.youtube.com/watch?v=EdYI-xGJ-fc

terça-feira, 5 de maio de 2009

Entrevista com Yalorixá Stella de Oxóssi

"O sagrado é sagrado, seja lá em que cultura for".

Ialorixá mais reverenciada da Bahia fala em entrevista exclusiva à Web TV


http://www.atarde.com.br/videos/index.jsf?id=1138362


Acompanhe essa belíssima entrevista.

sábado, 2 de maio de 2009

Texto de Jorge Portugal

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Mais um texto belíssimo sobre o episódio no Supremo. Esse texto é do professor Jorge Portugal. Encontrei no Mundo Afro, blog da jornalista Cleidiana Ramos, do Jornal A Tarde. Jorge escreve muito bem. E faz um trançado como temas que envolve a história da Resistência Negra casando com o fato que aconteceu no STF.


Vale apenas conferir


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Supremo Ministro!


**Jorge Portugal é educador, poeta e membro do Conselho Nacional de Política Cultural.

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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Ministro Joaquim Barbosa. A imagem expressiva de tantos e tantas


Esse mês de abril algo de curioso aconteceu e foi noticiado pela mídia brasileira. Foi o levante de um homem que não se rendeu como vítima do racismo no judiciário. O fato protagonizado pelo Excelentíssimo Senhor Ministro Joaquim Barbosa repercurtiu de forma tão simplória e minimalista pela mídia nacional. Vale apenas rever e fazer outras leituras.

Trago a seguir, o video do episódio seguido de dois textos que merecem ser apreciado com bastante atenção. Um dos textos é uma entrevista realizada com o grandioso Abdias do Nascimento. E o segundo texto, foi escrito pelo Jornalista Carlos Alberto Carlão de Oliveira e está postado no seu blog.

Vale apenas conferir.

Boas Leituras

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Na década de 40, quando o movimento negro era uma ilha, o dramaturgo Nelson Rodrigues cravava nas gazetas: Abdias do Nascimento é "o único negro do Brasil". E não houve quem o desmentisse. A "flor de obsessão" admirava no ator e ativista negro a "irredutível consciência racial", a coragem de esfregar a "cor na cara de todo o mundo".

Abdias, 95 anos, segue atento às novas gerações do movimento negro. Vibrou com a vitória do presidente Barack Obama, nos Estados Unidos. E hoje, a partir da leitura dos jornais, [...] confira o restante do texto clicando aqui



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Ministro Joaquim Barbosa e o povo contra o resto

Era adolescente e me lembro ainda de Kirk Douglas como protagonista do filme Spartacus, um escravo de Roma que liderou uma rebelião contra a elite da “República Romana”. O poder, como sempre o poder atua, partiu para cima dos revoltosos, os derrotou e no final do filme para identificar o líder um comandante romano grita: “Quem é Spartacus?” Todos os que lutaram e estavam amarrados respondiam um a um: “Eu sou Spartacus!”

Até hoje me lembro dessa cena. Ontem, dia 22, quarta-feira,[...]

Carlos Alberto Carlão de Oliveira é jornalista