terça-feira, 5 de outubro de 2010

Trampolim do Forte

Alheio à presença dos turistas e transeuntes, os meninos que saltam do Forte Santa Maria vêem um outro sentido para as águas convidativas do Porto da Barra. O mergulho que os banhistas pensam ser de pura diversão, muitas vezes é momento mais sublime de uma vida adulta demais. Esse é o ponto de partida do filme Trampolim do Forte, primeiro longa do cineasta baiano João Rodrigo Mattos. “O filme conta a história de um grupo de amigos que trabalham muito, se divertem pouco, e encontram no trampolim do forte o alívio para uma série de problemas sociais que eles tem que enfrentar, como a exploração do trabalho, sexual, a pobreza. O salto é o momento de poesia do filme”, explicou o diretor ao Soterópolis, em uma tarde de sol e tendo ao fundo o mesmo cenário de seu filme.

As filmagens pelas ruas da cidade começaram em 2008, mas a produção já havia começado dois anos antes disso. Com o roteiro, a produção ganhou o prêmio do Ministério da Cultura pelo edital de Produção de Baixo Orçamento, e também o Prêmio de Desenvolvimento de Roteiros da Globo Filmes. Quando já estavam em processo de finalização, resolveram inscrever o filme do Festival Internacional de Cinema do Rio e foram aprovados. Estão na lista da Mostra Competitiva de Longas de Ficcção, ao lado de mais outras oito produções. “É uma vitrine, talvez a maior vitrine do cinema nacional hoje. Vários filmes brasileiros alçaram vôos maiores depois de uma participação nesse festival. Muitos distribuidores, de vários países estarão lá com essa intenção, de levar o filme pra fora do país e é isso o que a gente quer no final das contas, que ele seja visto cada vez mais, por públicos diferentes e que as pessoas reflitam, discutam sobre ele”, afirma o diretor.

João Rodrigo faz ainda uma ressalva à dificuldade de distribuir e divulgar os filmes no Brasil, e que por isso estar em circuitos de mostras e festivais é tão importante. “De cada dez salas de cinema no Brasil, nove estão sempre com produções estrangeiras, principalmente os grandes lançamentos norte americanos. Há uma dependência muito grande e você não consegue divulgar o seu filme dentro do seu próprio país. Isso é um paradoxo, mas infelizmente é a realidade, então a gente sempre tem que procurar outras formas de distribuição e diálogo com o público”, reclama.

Uma dessas novas formas de diálogo foi encontrada na Medição de Audiência, modalidade ainda pouco explorada no país para filmes. Consiste em selecionar um grupo pequeno, com idades e classes sociais distintas, para assistir ao filme e trocar impressões com o diretor. “Essas medições são muito comuns já nos Estados Unidos e Europa, e estão chegando agora no Brasil. Fomos convidados a participar de duas sessões, em Brasília e Curitiba e foi muito legal porque o retorno desse pequeno grupo ajuda a produção a enxergar coisas novas no filme, chegamos a enxugar um pouco o Trampolim depois disso. Desse público, tivemos 80% de aprovação, o que já é um resultado incrível e estimulador”, diz João.

Os saltos que Trampolim do Forte está dando não param por aí. O próximo passo é alcançar as telonas, o que deve ocorrer em 2011, após o carnaval. As expectativas diante das portas que se abrem no Festival do Rio também são animadoras. “Eu acho que nós temos que regionalizar, mas é importante ter um tema universal, isso ajuda a dialogar com o mundo. E o Trampolim tem isso, é um filme que fala da infância, de amizade, e dos problemas sociais que não existem só aqui. O Festival entendeu a proposta do filme, e isso já é uma grande vitória”.


Veja aqui o traile do filme






Maiores informações acesse o site http://www.trampolimdoforte.com.br/index2.html

Texto retirado do site do Soterópolis, acessem: http://www.irdeb.ba.gov.br/soteropolis/?p=2476

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Primeiro dia de setembro, mês que dá incio às estações das flores. E já nesse mesmo sentimento. Hoje mando pra vc a fotografia de uma flor, de umas flores.
...Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de có
Só nos resta aprender
Aprender...



terça-feira, 31 de agosto de 2010

Beleza Infinda


Negra pérola de beleza estonteante.
Rara beleza que deflagra no meu peito um golpe,
Sempre que me olha por dentro.
Esses seus olhos, esse seu olhar me faz parecer
cada vez mais refém de seus domínios.
Qualquer outra coisa comparada a você torna-se clichê.
Seus lábios rosados me fazem produzir pensamentos confusos,
pensamentos íntimos que você sempre descobre.
Me olha por dentro de forma imbricada.
me desnudando e me expondo à sua infinita beleza.
Me quer como criança?
Então me toma nos braços
Me quer como homem?
Então continua invadindo meus insanos
pensamentos e me faz caminhar ao lado teu.


Fafá Araújo

domingo, 29 de agosto de 2010

Africa Is Where My Heart Lies

Bom, depois de tanto tem sem postar nada resolvi marcar minha volta com essa canção de Miriam Makeba seguida de sua tradução, muito linda por sinal. Essa letra pode muito bem retratar as várias identidades contruídas nos momentos pós-colonização. É interessante e importante salientar as várias Áfricas que contrunimos em diferentes universos. Esse é o verdadeiro sentido da Diáspora. Nosso posicionamento vais mais além do que uma simples escolha de lado. É a defesa da nossa rida identidade africana que está em jogo.

Espero que vocês gostem desse post.


África é onde meu coração


O berço do meu coração

A pitoresca luzes do sol o céu

Um momento mágico da luz que passa por

ritmos românticos que bateu durante a noite

Mãe dom da natureza para você e eu

Oh! Oh!

A África é a minha esperança


Você não sabe que a casa é

Onde está o meu coração

Do outro lado do oceano

Africano para o céu

Através dos montes e vales


Sobre as montanhas

África, é onde meu coração está


Um novo dia amanhece em nossa terra

Respirando vida para a criação do homem

Holding tesouros de beleza dada por todos

O sonho Africano. que toca a alma

De todos os

Nossa pátria, nossa casa


Você não sabe que a casa é

Onde está o meu coração

Do outro lado do oceano

Africano para o céu

Através dos montes e vales


Aqui é onde eu vou ficar

O berço do meu coração






Confira a letra original, a tradução e o vídeo:

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Beyoncé, a pista Vip e o racismo institucional

Por Jocélio Teles dos Santos*


Na madrugada do dia 10 de fevereiro um dos canais de televisão pagos projetou o filme O Homem Errado de Alfred Hitchcok (1956). Trata-se de um músico de uma casa noturna (interpretado por Henry Fonda), religioso, casado, de vida pacata e que é confundido, acusado e preso pela polícia americana por um crime que não cometeu. Ao ver o filme eu me perguntei: e se o personagem fosse de cor na sociedade americana de antanho ou na atual sociedade brasileira? Qual seria o roteiro e o desfecho? A resposta veio em menos de vinte e quatro horas.

Provocado pela mídia me desloquei com um amigo para o show de Beyoncé no Parque de Exposições em Salvador. Havíamos comprado ingressos para a pista Vip no intuito de uma visão ideal do show da mega estrela. E esta área estava restrita a quem pagasse R$370,00 por cabeça. Enquanto assistíamos ao show de Ivete Sangalo deparei-me com um fato que exemplifica o racismo institucional.

Uma guarnição da Polícia Militar abruptamente abordou o meu amigo, circundando-o e já levando-o de modo truculento, sem nada perguntar, segurando-o pelo braço por trás, pela camisa, na costumeira fila, dita indiana, da corporação do Estado. Ao me aproximar para saber o que estava acontecendo, os soldados me afastaram e não tive outra alternativa que acompanhá-los no meio da fileira, mesmo falando que estávamos juntos e procurando saber do que se tratava. A resposta do corpo policial traduziu força e ameaça, mesmo que implícita, sem nenhum texto, a não ser o gestual, demonstrando que não há verbo capaz de estabelecer um possível diálogo entre sujeitos que detém e os que devem ser alijados de alguma relação com quem personifica o poder.

O meu amigo estupefato não reagiu. Foi levado para um canto da pista VIP, próximo aos holofotes e humilhado pela revista policial, como se estivesse cometido um delito. Sendo obrigado a mostrar a carteira de identidade, teve que dizer onde residia e, por fim, após a crueldade de todo o rito da PM, ouviu a seguinte frase do responsável pela guarnição: “houve um roubo aqui na área VIP e soube que a pessoa era do seu estilo”. Qual estilo, cara pálida? Respondo: o da cor/raça. Meu amigo é negro retinto.

A área VIP era formada majoritariamente por indivíduos de classe média e branca. Se comparada com a área de pista mais barata – preços no valor de 80,00 e R$160,00 – ali havia uma proteção policial considerável, mesmo sendo uma área cara, reservada e sem grande fluxo de pessoas. Durante o evento havia sempre duas guarnições. A lógica da distribuição policial em espaços de eventos elitizados parece obedecer a critérios. Quais? Procuremos os sentidos implícitos, já manifestos a distribuição desigual da PM na capital soteropolitana.

Diante desse fato de racismo explícito, o que dizer dos olhares das pessoas diante de tal brutalidade? Mesmo que elas estivessem freneticamente dançando ao som de Sangalo, não houve reações, o que demonstra a subjetividade e a introjeção do racismo na sociedade brasileira. Ao ver um negro sendo levando por policiais, mesmo ele estando na área VIP, algo que indica um diferencial em termos de classe, um sentimento de proteção emana das cabeças ali situadas. A naturalização do racismo – uma pessoa negra sempre é suspeita – associa-se aos que imaginam estarem sempre protegidos pela corporação militar.

Exemplos como esse abundam no país. O diferencial é que foi na ala VIP de um show. Lembro-me que no debate sobre as cotas raciais nas universidades os que eram contrários insistiam em dizer que no Brasil é difícil definir quem é negro. A resposta dos ativistas atualizou-se na área VIP para ver Beyoncé: “pergunte a polícia e ela saberá”.

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*Departamento de Antropologia e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia.