quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sagrado no Mais Você [Rede Globo] - Cultos Afro, Entrevista com Makota Valdina

Muito emocionado, estou postando aqui a entrevista dada por nossa
querida Makota Valdina no Programa Mais Você.

"Eu não quero que me tolere, eu quero que me respeite",
Makota Valdina





terça-feira, 27 de outubro de 2009

Aluno com 106 anos é alfabetizado na Bahia

As mãos que ainda conseguem segurar a enxada são as mesmas que há seis meses começaram a segurar o lápis. Com a disposição de um jovem estudante dedicado, Ubaldo Dias, 106 anos, caminha duas noites por semana para a sala de aula na escola municipal de São João do Paraíso, um distrito de Mascote, no sul da Bahia.

O aposentado é um dos 351 mil alunos do programa Todos pela Alfabetização (Topa), da Secretaria Estadual da Educação (SEC), que já beneficiou 171 mil pessoas na Bahia.

Somente na cidade de seu Ubaldo, a cerca de 600 quilômetros de Salvador, são aproximadamente 600 alunos matriculados em 48 turmas. "Desde 2007, o Topa já realizou o sonho de mais de 500 pessoas nesta região, que antes eram consideradas analfabetas, assim como seu Ubaldo, um verdadeiro exemplo de que nunca é tarde para aprender", afirmou a coordenadora municipal do Topa, Unifleides Ferreira.

O cansaço de mais de um século de vida não parece atrapalhar os estudos de seu Ubaldo. Em casa, ele reforça o aprendizado das aulas com a bisneta Letícia Lisboa, quatro anos.

Os dois aproveitam para treinar as primeiras letras que aprenderam. Questionada sobre como se sentia ao ver o bisavô aprender, assim como ela, a ler, Letícia respondeu: "Feliz".

Na escola, o antigo trabalhador rural acompanha com olhos atentos as explicações da professora Ana Cláudia Lisboa, 22 anos, que, além de alfabetizadora, é sua neta e mãe de Letícia. Três gerações diferentes unidas pelo universo do saber.

"Tanto como professora quanto como neta, me sinto muito orgulhosa do esforço de meu avô em começar a essa altura da vida uma nova etapa. Ele é um aluno atencioso e disciplinado que em pouco tempo conseguiu aprender muitas coisas, apesar de suas limitações", comentou Ana Cláudia.

O sorriso espontâneo e a força de vontade do aposentado animam toda a sala de aula. Seu Ubaldo é tomado como exemplo e estímulo pelos seus colegas de turma.

"Tem gente que não acredita que ainda podemos aprender e ele é a prova contrária", explicou a também aposentada Maria Carmélia, 63 anos, que se senta perto de seu Ubaldo.

Tanto Maria Carmélia quanto seu Ubaldo e os demais estudantes do Topa são submetidos a um modelo construtivista de aprendizado desenvolvido pelo educador Paulo Freire. Trata-se, assim, de uma alfabetização popular que parte da realidade do aluno e utiliza da experiência de vida para ensinar e despertar a cidadania.

Hoje, seu Ubaldo já escreve o nome completo e destacou que não pretende parar de estudar. "Minha neta insistia muito para eu vir aprender e sempre quis saber assinar meu nome completo. Então entrei no Topa e quero continuar a aprender", disse, sorrindo.

Fonte: Diário Oficial da Bahia - dia 27 de outubro de 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Besouro - o filme

Quando Manoel Henrique Pereira nasceu, não havia nem dez anos que o Brasil tinha sido o último país do mundo a libertar seus escravos.

Naqueles tempos pós-abolição nossos negros continuavam tão alijados da sociedade que muitos deles ainda se questionavam se a liberdade tinha sido, de fato, um bom negócio. Afinal, antes de 1888 eles não eram cidadãos, mas tinham comida e casa para morar. Após a abolição, criou-se um imenso contingente de brasileiros livres, porém desempregados e sem-teto. A maioria sem preparo para trabalhar em outros serviços além daqueles mesmos que já realizavam na época da escravatura. E quase todos ainda sem a plena consciência de sua cidadania. O resultado desse quadro, principalmente nas regiões rurais, onde estavam os engenhos de açúcar e plantações de café, foi o surgimento de um grande contingente de negros libertos que continuavam, mesmo anos após a abolição, submetendo-se aos abusos e desmandos perpetrados por fazendeiros e senhores de engenho.

Assim era sociedade rural brasileira de 1897, ano em que Manoel Henrique Pereira, filho dos ex-escravos João Grosso e Maria Haifa, nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano.

Vinte anos depois, Manoel já era muito mais conhecido na cidade como Besouro Mangangá - ou Besouro Cordão de Ouro -, um jovem forte e corajoso, que não sabia ler nem escrever, mas que jogava capoeira como ninguém e não levava desaforo para casa. Como quase todos os negros de Santo Amaro na época, vivia em função das fazendas da região, trabalhando na roça de cana dos engenhos. Mas, ao contrário da maioria, ele não tinha medo dos patrões. E foram justamente os atritos com seus empregadores - e posteriormente com a polícia - que deixaram Besouro conhecido e começaram a escrever a sua imortalidade na cultura negra brasileira.

Há poucos registros oficiais sobre sua trajetória, mas é de se supor que a postura pouco subserviente do capoeirista tenha sido interpretada pelas autoridades da época como uma verdadeira subversão. Não por acaso, constam nas histórias sobre ele episódios de brigas grandiosas com a polícia, nas quais ele sempre se saía melhor, mesmo quando enfrentava as balas de peito aberto. Relatos de fugas espetaculares, muitas vezes inexplicáveis, deram origem a seu principal apelido: Mangangá é uma denominação regional para um tipo de besouro que produz uma dolorosa ferroada. O capoeirista era, portanto, "aquele que batia e depois sumia". E sumia como? Voando, diziam as pessoas...

Histórias como essas, verdadeiras ou não, foram aos poucos construindo a fama de Besouro. Que se tornou um mito - e um símbolo da luta pelo reconhecimento da cultura negra no Brasil - nos anos que se sucederam à sua morte.

Morte que ocorreu, também, num episódio cercado de controvérsias. Sabe-se que ele foi esfaqueado, após uma briga com empregados de uma fazenda. Registros policiais de Santo Amaro indicam que ele foi vítima de uma emboscada preparada pelo filho de um fazendeiro, de quem era desafeto. Já a lenda reza que Besouro só morreu porque foi atingido por uma faca de ticum, madeira nobre e dura, tida no universo das religiões afro-brasileiras como a única capaz de matar um homem de "corpo fechado".

E Besouro, o mito, certamente era um desses.
Lançamento dia 30/10/09 em todo Brasil
Texto retirado do site oficial, para mais informações acesse o:
Veja o trailer aqui