quarta-feira, 29 de abril de 2009

MEU SONHO NÃO FAZ SILÊNCIO

Visitando alguns espaços de umas pessoas que conheço. Foi na página de relacionamento de uma amiga que vi algo curioso. Um poema que é quase um grito, um levante. O Poeta José Carlos Limeira é sem dúvida um poeta que mais representa os desejos de um povo. Ele consegui em poucas linhas traçar o enredo da saga de um povo, que tanto nos imprimi o símbolo de uma resistência viva.

Seus poemas ultrapassam as barreiras de um português clássico, e passa a compor as várias vozes de guerreiros e guerreiras, pais e mães, jovens negros e negras. Pessoas que desrespeitadas, que são discriminadas.

Limeira vem enaltecê-las. Vem representa-las. Enfim, ele mostra de dentro como são as característica de um ser diaspórico. De um ser que tem azeite de dendê nas veias. Que tem na sua memória a hitórias de reis, rainhas, pais e mães de santos. mulheres e homens que sempre estarão conosco.

Pensando nisso, trago esse poema para conhecimento de todos/as.


MEU SONHO NÃO FAZ SILÊNCIO

Meu sonho jamais faz silêncio
E a ninguém caberá calá-loTrago-o como herança que me mantém desperto
Como esta cor não traduzida em versos
Pois se fariam necessários muitos e tantos versos

Meu sonho vara madrugadas
Som alto
De timbales que se arrebatam em cânticos
E trago-o como Olorum na crença
Que não me pune em pecados
Mas
Enche-me o peito grávido de esperanças
Como malungos marchando ao sol de novembro
Subindo as serras
Defesa e guerra

Meu sonho jamais faz silêncio
É a lança brilhante de Zumbi
A espada de Ogum
É o lê, o rumpi, é o rum
É a furia sem arreios
Terra farta dos anseios
Desacato, ato, sem freios
Vôo livre da águia que não cansa
Me faz erê, me faz criança

Meu sonho jamais faz silêncio
É um griot velho que me conta as lendas
De onde fisga tantas lembranças

E com ele invado chats, pages, sites
Na intimidade de corpos em dança
Perpetuando o gosto pelo correto
Meu sonho é pura herança
Rastro
Dos que plantaram, lutaram, construíram
O que não usufruo
Areia que moldada em vaso
Onde não nos cabe culpas
É lúcido ao sol dos trópicos, charqueado ao frio
É como um fio

Grita alto e bom som
Que o seio do amanhã nos pertence
Carregamos toda pressa

Meu sonho não faz silêncio
E não é apenas promessa

Planta em mim mesmo, na alma
Palmares, Palmares, Palmares
Pelo que de belo, pelo que de farto
Muitos Palmares

Carrega como o vento escritos
Versos de Jônatas, Oliveira, Colina , Semog e Cuti
Alimenta e nutre
Lembrando que esta cor me mantém desperto
E não tenho sustos

Sentinela que tange o eterno quissange
Entende a volúpia do calor que me abriga
Desfaz a mentira , destruindo a intriga

Meu sonho jamais faz silêncio
Como um Ilê Aiyê acordando a liberdade
Descobrindo amante ávido o sexo pulsante da existência
Desejo de navegar todos os mares
Comandando todas as fragatas, naves

E nos lança em um solo de Miles
Nos recria em um solo de Coltrane
Clássico como Marsalis, Jazz como Marsalis

E que nem tentem que faça silêncio
Pois voltaria gritando em um texto de Solynca
ás que completa a trinca
Torna-se um canto de Ella, Graça, Guiguio, Lecy
Gente negra, gente negra
Jamelão, mangueira
Brilho da mais brilhante estrela
Nunca se estanca, bravo se retraduz em sina

Só não lhe cabem
Crianças arrancadas da escola
Pela fome que rasga gargantas
E nos promete vê-las
Alimentadas todas, cultas
Meu sonho é uma negra criança
Que luta

Ergue Quilombos, aqui , ali
Em cada mente, em cada face
Impávidos como Palmares, impávidos Ilês
Em todos os lugares

Meu sonho não faz silêncio
Porque feito de lida
Teimoso como esta cor
Para sempre será desperto e certo
Mais que vivo, é a própria vida.

(José Carlos Limeira)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Ministério Público pede suspensão de programa de TV na Bahia





Da Redação do Correio

O Ministério Público do Estado da Bahia entrou com uma ação 07/04, pedindo a suspensão imediata do programa Na Mira, da TV Aratu, retransmissora do SBT no estado. A ação civil pública foi enviada à Justiça no dia 07/04, mas até o momento a emissora não foi notificada.


De acordo com os promotores Almiro Sena e Isabel Adelaide Moura, o programa, sob o pretexto de “mostrar a vida real”, apresenta cenas de extrema violência e constrangem, ilegalmente e de forma humilhante, pessoas que são presas pela polícia, “ofendendo, dessa forma, direitos e garantias fundamentais da pessoa humana”.


“O problema deste programa não é o de eventualmente ter ultrapassado, nesse ou naquele ponto, os limites do direito humano fundamental da liberdade de ‘expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença’. O problema é muito maior, pois o Na Mira viola de forma sistemática, reiterada e ostensiva, uma série de outros direitos fundamentais igualmente importantes”.


O programa, na visão dos promotores, realiza a “execração pública, inclusive com xingamentos de pessoas suspeitas, processadas ou condenadas pela prática de algum crime”. Com isso, é violada a Constituição, já que ninguém pode ser considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Os promotores destacam ainda que, socialmente, a pessoa, ainda que absolvida, está antecipadamente condenada e com parcela razoável de sua vida prejudicada.


Os promotores também acusam o programa de chancelar a prática de abuso de autoridade por parte da polícia, “fato que já motivou uma recomendação do Grupo de Atuação Especial para o Controle Externo da Atividade Policial”.


“(O programa) utiliza-se covardemente da justificativa de servir ao interesse público, para fazer exatamente o oposto. Ou será que humilhar, xingar, ridicularizar e expor indevidamente, e da pior forma possível, a imagem de pessoas pobres ou paupérrimas presas nas Delegacias de Polícia é atender ao interesse público?”.


O diretor da TV Aratu, Nei Bandeira, informa que a emissora irá se posicionar somente após ser notificada pela Justiça.


Com informações do MPE-BA

quinta-feira, 16 de abril de 2009

PROGRAMA “NA MIRA” É SUSPENSO PELA JUSTIÇA


O juiz Manuel Bahia acolheu nesta quarta-feira (15) a solicitação do Ministério Público Estadual (MP-BA) e determinou a suspensão temporária do programa “Na Mira”, da TV Aratu. Caso a medida não seja cumprida, os produtores terão que pagar multa de R$ 10 mil ao dia e podem sofrer pena por desobediência. De acordo com o entendimento do jurista, a exibição só retornará se for adequada “aos dispositivos legais do nosso dispositivo jurídico”. O argumento para decisão foi o horário impróprio, já que o programa é acessível a crianças, e o conteúdo seria repleto de exageros, cenas de violências, imagens chocantes e desrespeitosas à dignidade da pessoa humana. A promotoria já havia fundamentado em provas que o programa realiza a “execração pública, inclusive com xingamentos de pessoas suspeitas, processadas ou condenadas pela prática de algum crime”. O juiz disse que o material coletado “vislumbra-se facilmente com quadros chocantes, pavorosos, tétricos, macabros e dantescos”, concluiu.
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Samuel Celestino
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domingo, 12 de abril de 2009

Você sabe o significado da palavra "TXAI"

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Certa vez ouvindo o DVD Pietá, do Cantor e Compositor Milton Nascimento, uma história me chamou a atenção. Em uma das faixas do DVD, Milton conta uma história que ele conheceu em uma parte da Amazônia, pelas bandas do Acre.

A história que trago logo mais, retrada a sabedoria popular, costumes e valores que hoje em dia temos a preocupação que os novos tempos não assimile.

Essa palavra que achei singela e muito aconchegante "TXAI", é a representação de um laço afetuoso que é comum até nos dias de hoje. Trago essa história na perspectiva de fazer alusão aos valores que aprendemos com os/as nossos/as mais velhos/as.

Pesquisando na internet descobri entre resortes e hoteis um cd do Próprio Milton Nascimento de 1990, onde disponibilizo o link para que os/as interessados/as possam conhecer, fazendo o donwload do arquivo.

A palavra TXAI significa mais do que companheiro, a outra metade de mim, na língua dos índios da tribo Kaxinawá, do Acre.

Milton Nascimento relata essa história e nos deixa como uma forma singela de refletir nossas relações. No DVD ele oferece aos companheiros de palco numa bonita e simples homenagem. Agora cabe a nós observar e saber quem são nossos/as verdadeiros/as Txais da nossa vida.

Segue a história contada por Milton Nascimento:

Bom, eu tenho que contar uma pequena história aqui. Quando eu fui para a Amazônia, no Acre, a gente foi de canoa, barco, essas coisas todas e de repente passava alguém e a gente ouvia,
“Hei TXAI”.
Ai eu achei muito bonito esse negócio de chamarem “TXAI”, e esperei assim uns dois dias, até por que Índio, Seringueiros essas coisas é bom pegar eles numa hora que ele estejam afim de falar.
Então, acabei achando um que chegou e me falou.
TXAI
Mais que amigo, mais que irmão, a metade de mim que existe em você, é a metade de você que
habita em mim.
Quatro letras
E quando, alguém te chama de TXAI, essa pessoa ta pronta pra dar a vida dela no lugar da sua, se for o caso.
Retirado do DVD Pietá, Milton Nascimento, 2006.



CD TXAI, Milton Nascimento, 1990

Click na imagem para baixar o cd

Faixa do CD

1.Abertura: Milton Nascimento - Fala de Davi Kopenawa Yanomami
2.Txai (Márcio Borges - Milton Nascimento)
3.Baú metoro (Ukre)
4.Coisas da vida (Milton Nascimento - Fernando Brant)
5.Hoeiepereiga
6.Estórias da floresta (Milton Nascimento - Fernando Brant)
7.Yanomami e nós [Pacto de vida] (Milton Nascimento - Fernando Brant)
8.Awasi
9.A terceira margem do rio (Caetano Veloso - Milton Nascimento)
10.Benke (Márcio Borges - Milton Nascimento)
11.Sertão das águas (Milton Nascimento - Ronaldo Bastos)
12.Que virá dessa escuridão?(Milton Nascimento - Fernando Brant)
13.Curi curi [Tsaqu Waiãpi] [Fala de River Phoenix]
14.Nozanina (Lobos - Roquette Pinto)
15.Baridjumokô (Ukre)

Para outro cds de Milton Nascimento basta clicar aqui

sábado, 11 de abril de 2009

OS AFRO-SAMBAS DE BADEN E VINICIUS

Baden Powell / Quarteto em Cy / Vinicius de Moraes

Um cd para resgatar o brilhantismo de dois gênios da música popular brasileira. Sem dúvida, vale a pena escultar.

Considerado por muitos críticos como um divisor de águas na MPB por fundir vários elementos da sonoridade africana ao samba carioca, "Os Afro-sambas" é o segundo LP lançado pela parceria Vínicius de Moraes/Baden Powell.

As oito canções apresentam uma rica e singular musicalidade, que traz uma mistura de instrumentos do candomblé e da umbanda (como atabaques e afoxés) com timbres mais comuns à música brasileira (agogôs, saxofones e pandeiros).

O grande destaque do álbum é a faixa de abertura "Canto de Ossanha", futuro clássico da MPB, que conta com a participação nos vocais da atriz Betty Faria e na flauta de Nicolino Cópia.

Baden Powell realizou em 1990 uma regravação deste álbum, novamente acompanhado do Quarteto em Cy, em que basicamente manteve os mesmos arranjos mas procurou obter uma melhor qualidade sonora, uma forma de homenagear o amigo Vinícius, então já falecido.

Faixas
Todas as faixas são de autoria conjunta de Vinícius de Moraes e Baden Powell
Canto de Ossanha
Canto de Xangô
Bocoché
Canto de Iemanjá
Tempo de amor
Canto do Caboclo Pedra-Preta
Tristeza e solidão
Lamento de Exu

[Retirado do site http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Afro-sambas_(1966)]

Click na imagem para baixar o CD

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Famila representação de Identidade, Ancestralidade e Resistência

Olá gente, uma boa tarde a todos/as.

Para registrar minha primeira postagem, trarei a baixo um conto que para mim simboliza muito. Ele foi retirado do livro Mitos afro-brasileiros e vivências educacionais da Professora Vanda Machado.

Esse texto é muito significativo no dia de hoje, onde a família baiana senta-se à mesa para celebrar uma representação que vai além de valores cristãos, claro que não nego os valores presentes, mais é um fenômeno curioso esse de celebrar a morte de cristo com um farto banquete.

Por que em um dia onde cristão católicos, protestantes, adventistas celebram a Sexta-feira Santa de forma mais introspectiva várias famílias ainda celebram com banquetes fartos, tanto de comida como de pessoas, parentes, chegados, amigos, amigos de amigos? É uma verdadeira celebração de valores cheios de símbolos e significados.

Cito o conto adaptado por Vanda Machado para exaltar a importância dos valores familiares presentes na Sexta-feira Santa. Um reconhecimento dos pressupostos téoricos da diáspora africana, aplicado diretamente nas relações familiares baianas, o tripé Identidade, Ancestralidade e Reistência.

Só quem vive, sabe da importância disso para as nossas vidas.

Segue o texto:

"Conta-se que um velho, percebendo que a morte se aproximava, chamou os filhos um por um para apresentar-lhes a herança. Todos reunidos, pediu ao filho mais velho que lhe trouxesse uma vassoura. Um tipo de vassoura utilizada na Nigéria, por exemplo, não tem cabo e é feita com muitas fibras tiradas das folhas de palmeiras e amarradas num feixe bem firme.O velho pai tomou algumas das fibras e distribuiu entre os filhos, pedindo que as quebrassem. Todos fizeram a mesma experiência com facilidade. O velho tomou o feixe de fibras e novamente pediu que os filhos experimentassem quebrar todas as fibras juntas. Todos tentaram e não conseguiram, obviamente. Os filhos colheram os últimos suspiros do ancião que deixou como maior bem o sentido da união que fortalecem as famílias."**

Viva os valores presentes que edificam e solidificam a família. E viva a todas as Sextas-feiras que trazem essa representação viva para a população brasileira afrodescendente.



**Mito adaptado por Vanda Machado e Carlos Petrovich, para capacitação de educadores da Secretaria Munipal de Lençois com a ONG Grão de Luz Griô.
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