quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Senhora das águas doces e da beleza


Era uma vez lá na África, há muitos e muitos anos, vivia uma senhora chamada Oxum. Oxum, a conhecida senhora das águas doces. Mulher muito elegante e vaidosa, gostava de tudo que era bonito: belas roupas, bonitos penteados, perfumes, e tinha paixão por jóias. Atenta à sua beleza, estava sempre admirando sua beleza no espelho.


Quando amanhecia o dia, Oxum já estava mergulhando no rio, banhando-se para enfeitar-se com suas jóias. Na verdade, antes mesmo de lavar as suas crianças, ela lavava as jóias.


Mas um dia, que surpresa desagradável! Oxum acordou, levantou-se com o primeiro raio do sol e quando destampou o baú das jóias, ele estava vazio. Não havia uma só peça. O que teria acontecido? Oxum botou a mão na cabeça. Andava de um lado para outro enquanto pensava: quem levou minhas jóias?


Assustada ela chorava muito. Deu uma volta em torno da casa e pode ver dois homens que se afastavam correndo. Cada um deles levava um saco que, com certeza, eram suas jóias. Oxum pensou rápido: – eu preciso agir. Ela pensou logo e executou.


Foi à cozinha, pegou uma quantidade d feijão fradinho, amassou bem e colocou numa panela. Ali acrescentou cebola amassada e uma boa quantidade de camarão seco, pisado no pilão. Por fim ela botou também "epô", (azeite de dendê) e misturou tudo até que se transformou numa massa bem gostosa.


Enrolou pequenas porções em folhas de bananeiras passadas no fogo. Arrumou tudo numa panelinha e cozinhou.


Depois de cozida esta gostosa comidinha, ela arrumou tudo no tabuleiro bem bonito e saiu em busca dos ladrões, cantando para espantar as suas preocupações.


Não foi difícil. Ela sabia exatamente por onde eles iam passar. Sentou-se com tranqüilidade, esperou os dois ladrões. Não tardou, eles apareceram cumprimentando Oxum na maior disfaçatez.


- Kuwaró! (bom dia).

- Kuwaró ô! (bom dia).


- Que belo dia! Que bom encontrar companhia por aqui. Como estamos contentes de encontrar a senhora.


- Ótimo. Então vamos parar de conversar um pouco. Querem comer? Hoje fiz uma comida de minha predileção. Wa unjeum? (convite para refeição).


- Hum… Bem que a gente estava sentindo esse cheio tão bom!


Os homens entreolharam-se confiantes e falaram baixinho:


- Esta senhora é tão bonita… mas parece muito bobinha.


- Pois é, nós tiramos todas as suas jóias, e ela ainda quer dividir a sua comida com a gente. É tola mesmo.


Os homens não esperaram outro convite e avançaram nos abarás e comeram sem a menor cerimônia, até caírem adormecidos um para cada lado.


Ai neste momento, Oxum aproveitou, tomou os dois sacos cheios de brincos, colares, anéis, pentes, pulseiras e prendedores de cabelo. Ela pegou tudo rápido, enfeitou-se toda e saiu cantando pelo caminho de volta para sua casa.


Iya omi bu odomi ró Orixá ó le le

Iya omi bu odomi'ó Orixá o le le

E ó be rê o o be rê o

O iná be ko ina ina



Referência


PETROVICH, Carlos & MACHADO, Vanda. Irê Ayó: Mitos Afro-brasileiros - Salvador: EDUFBA, 2004 p.73

Nenhum comentário:

Postar um comentário