Minhas Coisas. Esse é um espaço de organização e de confronto de ideias. Trago ai coisas que tenho como relevantes. Se aconteceu e foi importante para mim, você saberá. Pois você verá aqui.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Beleza Infinda
Negra pérola de beleza estonteante.
Rara beleza que deflagra no meu peito um golpe,
Sempre que me olha por dentro.
Esses seus olhos, esse seu olhar me faz parecer
cada vez mais refém de seus domínios.
Qualquer outra coisa comparada a você torna-se clichê.
Seus lábios rosados me fazem produzir pensamentos confusos,
pensamentos íntimos que você sempre descobre.
Me olha por dentro de forma imbricada.
me desnudando e me expondo à sua infinita beleza.
Me quer como criança?
Então me toma nos braços
Me quer como homem?
Então continua invadindo meus insanos
pensamentos e me faz caminhar ao lado teu.
Fafá Araújo
domingo, 29 de agosto de 2010
Africa Is Where My Heart Lies
Espero que vocês gostem desse post.
África é onde meu coração
O berço do meu coração
A pitoresca luzes do sol o céu
Um momento mágico da luz que passa por
ritmos românticos que bateu durante a noite
Mãe dom da natureza para você e eu
Oh! Oh!
A África é a minha esperança
Você não sabe que a casa é
Onde está o meu coração
Do outro lado do oceano
Africano para o céu
Através dos montes e vales
Sobre as montanhas
África, é onde meu coração está
Um novo dia amanhece em nossa terra
Respirando vida para a criação do homem
Holding tesouros de beleza dada por todos
O sonho Africano. que toca a alma
De todos os
Nossa pátria, nossa casa
Você não sabe que a casa é
Onde está o meu coração
Do outro lado do oceano
Africano para o céu
Através dos montes e vales
Aqui é onde eu vou ficar
O berço do meu coração
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Beyoncé, a pista Vip e o racismo institucional
Por Jocélio Teles dos Santos*
Na madrugada do dia 10 de fevereiro um dos canais de televisão pagos projetou o filme O Homem Errado de Alfred Hitchcok (1956). Trata-se de um músico de uma casa noturna (interpretado por Henry Fonda), religioso, casado, de vida pacata e que é confundido, acusado e preso pela polícia americana por um crime que não cometeu. Ao ver o filme eu me perguntei: e se o personagem fosse de cor na sociedade americana de antanho ou na atual sociedade brasileira? Qual seria o roteiro e o desfecho? A resposta veio em menos de vinte e quatro horas.
Provocado pela mídia me desloquei com um amigo para o show de Beyoncé no Parque de Exposições em Salvador. Havíamos comprado ingressos para a pista Vip no intuito de uma visão ideal do show da mega estrela. E esta área estava restrita a quem pagasse R$370,00 por cabeça. Enquanto assistíamos ao show de Ivete Sangalo deparei-me com um fato que exemplifica o racismo institucional.
Uma guarnição da Polícia Militar abruptamente abordou o meu amigo, circundando-o e já levando-o de modo truculento, sem nada perguntar, segurando-o pelo braço por trás, pela camisa, na costumeira fila, dita indiana, da corporação do Estado. Ao me aproximar para saber o que estava acontecendo, os soldados me afastaram e não tive outra alternativa que acompanhá-los no meio da fileira, mesmo falando que estávamos juntos e procurando saber do que se tratava. A resposta do corpo policial traduziu força e ameaça, mesmo que implícita, sem nenhum texto, a não ser o gestual, demonstrando que não há verbo capaz de estabelecer um possível diálogo entre sujeitos que detém e os que devem ser alijados de alguma relação com quem personifica o poder.
O meu amigo estupefato não reagiu. Foi levado para um canto da pista VIP, próximo aos holofotes e humilhado pela revista policial, como se estivesse cometido um delito. Sendo obrigado a mostrar a carteira de identidade, teve que dizer onde residia e, por fim, após a crueldade de todo o rito da PM, ouviu a seguinte frase do responsável pela guarnição: “houve um roubo aqui na área VIP e soube que a pessoa era do seu estilo”. Qual estilo, cara pálida? Respondo: o da cor/raça. Meu amigo é negro retinto.
A área VIP era formada majoritariamente por indivíduos de classe média e branca. Se comparada com a área de pista mais barata – preços no valor de 80,00 e R$160,00 – ali havia uma proteção policial considerável, mesmo sendo uma área cara, reservada e sem grande fluxo de pessoas. Durante o evento havia sempre duas guarnições. A lógica da distribuição policial em espaços de eventos elitizados parece obedecer a critérios. Quais? Procuremos os sentidos implícitos, já manifestos a distribuição desigual da PM na capital soteropolitana.
Diante desse fato de racismo explícito, o que dizer dos olhares das pessoas diante de tal brutalidade? Mesmo que elas estivessem freneticamente dançando ao som de Sangalo, não houve reações, o que demonstra a subjetividade e a introjeção do racismo na sociedade brasileira. Ao ver um negro sendo levando por policiais, mesmo ele estando na área VIP, algo que indica um diferencial em termos de classe, um sentimento de proteção emana das cabeças ali situadas. A naturalização do racismo – uma pessoa negra sempre é suspeita – associa-se aos que imaginam estarem sempre protegidos pela corporação militar.
Exemplos como esse abundam no país. O diferencial é que foi na ala VIP de um show. Lembro-me que no debate sobre as cotas raciais nas universidades os que eram contrários insistiam em dizer que no Brasil é difícil definir quem é negro. A resposta dos ativistas atualizou-se na área VIP para ver Beyoncé: “pergunte a polícia e ela saberá”.
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*Departamento de Antropologia e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Nosso racismo é um crime perfeito - Entrevista com Kabengele Munanga
Kabengele Munanga denuncia a farsa da democracia racial, defende o sistema de cotas e discute o espaço do negro na sociedade.
Por Camila Souza Ramos e Glauco Faria
Fórum - O senhor veio do antigo Zaire que, apesar de ter alguns pontos de contato com a cultura brasileira e a cultura do Congo, é um país bem diferente. O senhor sentiu, quando veio pra cá, a questão racial? Como foi essa mudança para o senhor?
Kabengele - Essas coisas não são tão abertas como a gente pensa. Cheguei aqui em 1975, diretamente para a USP, para fazer doutorado. Não se depara com o preconceito à primeira vista, logo que sai do aeroporto. Essas coisas vêm pouco a pouco, quando se começa a descobrir que você entra em alguns lugares e percebe que é único, que te olham e já sabem que não é daqui, que não é como “nossos negros”, é diferente. Poderia dizer que esse estranhamento é por ser estrangeiro, mas essa comparação na verdade é feita em relação aos negros da terra, que não entram em alguns lugares ou não entram de cabeça erguida.
Depois, com o tempo, na academia, fiz disciplinas em antropologia e alguns de meus professores eram especialistas na questão racial. Foi através da academia, da literatura, que comecei a descobrir que havia problemas no país. Uma das primeiras aulas que fiz foi em 1975, 1976, já era uma disciplina sobre a questão racial com meu orientador João Batista Borges Pereira. Depois, com o tempo, você vai entrar em algum lugar em que está sozinho e se pergunta: onde estão os outros? As pessoas olhavam mesmo, inclusive olhavam mais quando eu entrava com minha mulher e meus filhos. Porque é uma família inter-racial: a mulher branca, o homem negro, um filho negro e um filho mestiço. Em todos os lugares em que a gente entrava, era motivo de curiosidade. O pessoal tentava ser discreto, mas nem sempre escondia. Entrávamos em lugares onde geralmente os negros não entram.
A partir daí você começa a buscar uma explicação para saber o porquê e se aproxima da literatura e das aulas da universidade que falam da discriminação racial no Brasil, os trabalhos de Florestan Fernandes, do Otavio Ianni, do meu próprio orientador e de tantos outros que trabalharam com a questão. Mas o problema é que quando a pessoa é adulta sabe se defender, mas as crianças não. Tenho dois filhos que nasceram na Bélgica, dois no Congo e meu caçula é brasileiro. Quantas vezes, quando estavam sozinhos na rua, sem defesa, se depararam com a polícia?
Meus filhos estudaram em escola particular, Colégio Equipe, onde estudavam filhos de alguns colegas professores. Eu não ia buscá-los na escola, e quando saíam para tomar ônibus e voltar para casa com alguns colegas que eram brancos, eles eram os únicos a ser revistados. No entanto, a condição social era a mesma e estudavam no mesmo colégio. Por que só eles podiam ser suspeitos e revistados pela polícia? Essa situação eu não posso contar quantas vezes vi acontecer. Lembro que meu filho mais velho, que hoje é ator, quando comprou o primeiro carro dele, não sei quantas vezes ele foi parado pela polícia. Sempre apontando a arma para ele para mostrar o documento. Ele foi instruído para não discutir e dizer que os documentos estão no porta-luvas, senão podem pensar que ele vai sacar uma arma. Na realidade, era suspeito de ser ladrão do próprio carro que ele comprou com o trabalho dele. Meus filhos até hoje não saem de casa para atravessar a rua sem documento. São adultos e criaram esse hábito, porque até você provar que não é ladrão... A geografia do seu corpo não indica isso.
Então, essa coisa de pensar que a diferença é simplesmente social, é claro que o social acompanha, mas e a geografia do corpo? Isso aqui também vai junto com o social, não tem como separar as duas coisas. Fui com o tempo respondendo à questão, por meio da vivência, com o cotidiano e as coisas que aprendi na universidade, depoimentos de pessoas da população negra, e entendi que a democracia racial é um mito. Existe realmente um racismo no Brasil, diferenciado daquele praticado na África do Sul durante o regime do apartheid, diferente também do racismo praticado nos EUA, principalmente no Sul. Porque nosso racismo é, utilizando uma palavra bem conhecida, sutil. Ele é velado. Pelo fato de ser sutil e velado isso não quer dizer que faça menos vítimas do que aquele que é aberto. Faz vítimas de qualquer maneira.
Revista Fórum - Quando você tem um sistema como o sul-africano ou um sistema de restrição de direitos como houve nos EUA, o inimigo está claro. No caso brasileiro é mais difícil combatê-lo...
Kabengele - Claro, é mais difícil. Porque você não identifica seu opressor. Nos EUA era mais fácil porque começava pelas leis. A primeira reivindicação: o fim das leis racistas. Depois, se luta para implementar políticas públicas que busquem a promoção da igualdade racial. Aqui é mais difícil, porque não tinha lei nem pra discriminar, nem pra proteger. As leis pra proteger estão na nova Constituição que diz que o racismo é um crime inafiançável. Antes disso tinha a lei Afonso Arinos, de 1951. De acordo com essa lei, a prática do racismo não era um crime, era uma contravenção. A população negra e indígena viveu muito tempo sem leis nem para discriminar nem para proteger.
Revista Fórum - Aqui no Brasil há mais dificuldade com relação ao sistema de cotas justamente por conta do mito da democracia racial? Kabengele - Tem segmentos da população a favor e contra. Começaria pelos que estão contra as cotas, que apelam para a própria Constituição, afirmando que perante a lei somos todos iguais. Então não devemos tratar os cidadãos brasileiros diferentemente, as cotas seriam uma inconstitucionalidade. Outro argumento contrário, que já foi demolido, é a ideia de que seria difícil distinguir os negros no Brasil para se beneficiar pelas cotas por causa da mestiçagem. O Brasil é um país de mestiçagem, muitos brasileiros têm sangue europeu, além de sangue indígena e africano, então seria difícil saber quem é afro-descendente que poderia ser beneficiado pela cota. Esse argumento não resistiu. Por quê? Num país onde existe discriminação antinegro, a própria discriminação é a prova de que é possível identificar os negros. Senão não teria discriminação.
Em comparação com outros países do mundo, o Brasil é um país que tem um índice de mestiçamento muito mais alto. Mas isso não pode impedir uma política, porque basta a autodeclaração. Basta um candidato declarar sua afro-descendência. Se tiver alguma dúvida, tem que averiguar. Nos casos-limite, o indivíduo se autodeclara afro-descendente. Às vezes, tem erros humanos, como o que aconteceu na UnB, de dois jovens mestiços, de mesmos pais, um entrou pelas cotas porque acharam que era mestiço, e o outro foi barrado porque acharam que era branco. Isso são erros humanos. Se tivessem certeza absoluta que era afro-descendente, não seria assim. Mas houve um recurso e ele entrou. Esses casos-limite existem, mas não é isso que vai impedir uma política pública que possa beneficiar uma grande parte da população brasileira.
Além do mais, o critério de cota no Brasil é diferente dos EUA. Nos EUA, começaram com um critério fixo e nato. Basta você nascer negro. No Brasil não. Se a gente analisar a história, com exceção da UnB, que tem suas razões, em todas as universidades brasileiras que entraram pelo critério das cotas, usaram o critério étnico-racial combinado com o critério econômico. O ponto de partida é a escola pública. Nos EUA não foi isso. Só que a imprensa não quer enxergar, todo mundo quer dizer que cota é simplesmente racial. Não é. Isso é mentira, tem que ver como funciona em todas as universidades. É necessário fazer um certo controle, senão não adianta aplicar as cotas. No entanto, se mantém a ideia de que, pelas pesquisas quantitativas, do IBGE, do Ipea, dos índices do Pnud, mostram que o abismo em matéria de educação entre negros e brancos é muito grande. Se a gente considerar isso então tem que ter uma política de mudança. É nesse sentido que se defende uma política de cotas.
O racismo é cotidiano na sociedade brasileira. As pessoas que estão contra cotas pensam como se o racismo não tivesse existido na sociedade, não estivesse criando vítimas. Se alguém comprovar que não tem mais racismo no Brasil, não devemos mais falar em cotas para negros. Deveríamos falar só de classes sociais. Mas como o racismo ainda existe, então não há como você tratar igualmente as pessoas que são vítimas de racismo e da questão econômica em relação àquelas que não sofrem esse tipo de preconceito. A própria pesquisa do IPEA mostra que se não mudar esse quadro, os negros vão levar muitos e muitos anos para chegar aonde estão os brancos em matéria de educação. Os que são contra cotas ainda dão o argumento de que qualquer política de diferença por parte do governo no Brasil seria uma política de reconhecimento das raças e isso seria um retrocesso, que teríamos conflitos, como os que aconteciam nos EUA.
Fórum - Que é o argumento do Demétrio Magnoli.
Kabengele - Isso é muito falso, porque já temos a experiência, alguns falam de mais de 70 universidades públicas, outros falam em 80. Já ouviu falar de conflitos raciais em algum lugar, linchamentos raciais? Não existe. É claro que houve manifestações numa universidade ou outra, umas pichações, "negro, volta pra senzala". Mas isso não se caracteriza como conflito racial. Isso é uma maneira de horrorizar a população, projetar conflitos que na realidade não vão existir.
Fórum - Agora o DEM entrou com uma ação no STF pedindo anulação das cotas. O que motiva um partido como o DEM, qual a conexão entre a ideologia de um partido ou um intelectual como o Magnoli e essa oposição ao sistema de cotas? Qual é a raiz dessa resistência?
Kabengele – Tenho a impressão que as posições ideológicas não são explícitas, são implícitas. A questão das cotas é uma questão política. Tem pessoas no Brasil que ainda acreditam que não há racismo no país. E o argumento desse deputado do DEM é esse, de que não há racismo no Brasil, que a questão é simplesmente socioeconômica. É um ponto de vista refutável, porque nós temos provas de que há racismo no Brasil no cotidiano. O que essas pessoas querem? Status quo. A ideia de que o Brasil vive muito bem, não há problema com ele, que o problema é só com os pobres, que não podemos introduzir as cotas porque seria introduzir uma discriminação contra os brancos e pobres. Mas eles ignoram que os brancos e pobres também são beneficiados pelas cotas, e eles negam esse argumento automaticamente, deixam isso de lado.
Fórum – Mas isso não é um cinismo de parte desses atores políticos, já que eles são contra o sistema de cotas, mas também são contra o Bolsa-Família ou qualquer tipo de política compensatória no campo socioeconômico?
Kabengele - É interessante, porque um país que tem problemas sociais do tamanho do Brasil deveria buscar caminhos de mudança, de transformação da sociedade. Cada vez que se toca nas políticas concretas de mudança, vem um discurso. Mas você não resolve os problemas sociais somente com a retórica. Quanto tempo se fala da qualidade da escola pública? Estou aqui no Brasil há 34 anos. Desde que cheguei aqui, a escola pública mudou em algum lugar? Não, mas o discurso continua. "Ah, é só mudar a escola pública." Os mesmos que dizem isso colocam os seus filhos na escola particular e sabem que a escola pública é ruim. Poderiam eles, como autoridades, dar melhor exemplo e colocar os filhos deles em escola pública e lutar pelas leis, bom salário para os educadores, laboratórios, segurança. Mas a coisa só fica no nível da retórica.
Veja a entrevista completa em:
http://www.revistaforum.com.br/noticias/2009/08/18/nosso_racismo_e_um_crime_perfeito/
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Sagrado no Mais Você [Rede Globo] - Cultos Afro, Entrevista com Makota Valdina
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Aluno com 106 anos é alfabetizado na Bahia

As mãos que ainda conseguem segurar a enxada são as mesmas que há seis meses começaram a segurar o lápis. Com a disposição de um jovem estudante dedicado, Ubaldo Dias, 106 anos, caminha duas noites por semana para a sala de aula na escola municipal de São João do Paraíso, um distrito de Mascote, no sul da Bahia.
O aposentado é um dos 351 mil alunos do programa Todos pela Alfabetização (Topa), da Secretaria Estadual da Educação (SEC), que já beneficiou 171 mil pessoas na Bahia.
Somente na cidade de seu Ubaldo, a cerca de 600 quilômetros de Salvador, são aproximadamente 600 alunos matriculados em 48 turmas. "Desde 2007, o Topa já realizou o sonho de mais de 500 pessoas nesta região, que antes eram consideradas analfabetas, assim como seu Ubaldo, um verdadeiro exemplo de que nunca é tarde para aprender", afirmou a coordenadora municipal do Topa, Unifleides Ferreira.
O cansaço de mais de um século de vida não parece atrapalhar os estudos de seu Ubaldo. Em casa, ele reforça o aprendizado das aulas com a bisneta Letícia Lisboa, quatro anos.
Os dois aproveitam para treinar as primeiras letras que aprenderam. Questionada sobre como se sentia ao ver o bisavô aprender, assim como ela, a ler, Letícia respondeu: "Feliz".
Na escola, o antigo trabalhador rural acompanha com olhos atentos as explicações da professora Ana Cláudia Lisboa, 22 anos, que, além de alfabetizadora, é sua neta e mãe de Letícia. Três gerações diferentes unidas pelo universo do saber.
"Tanto como professora quanto como neta, me sinto muito orgulhosa do esforço de meu avô em começar a essa altura da vida uma nova etapa. Ele é um aluno atencioso e disciplinado que em pouco tempo conseguiu aprender muitas coisas, apesar de suas limitações", comentou Ana Cláudia.
O sorriso espontâneo e a força de vontade do aposentado animam toda a sala de aula. Seu Ubaldo é tomado como exemplo e estímulo pelos seus colegas de turma.
"Tem gente que não acredita que ainda podemos aprender e ele é a prova contrária", explicou a também aposentada Maria Carmélia, 63 anos, que se senta perto de seu Ubaldo.
Tanto Maria Carmélia quanto seu Ubaldo e os demais estudantes do Topa são submetidos a um modelo construtivista de aprendizado desenvolvido pelo educador Paulo Freire. Trata-se, assim, de uma alfabetização popular que parte da realidade do aluno e utiliza da experiência de vida para ensinar e despertar a cidadania.
Hoje, seu Ubaldo já escreve o nome completo e destacou que não pretende parar de estudar. "Minha neta insistia muito para eu vir aprender e sempre quis saber assinar meu nome completo. Então entrei no Topa e quero continuar a aprender", disse, sorrindo.
Fonte: Diário Oficial da Bahia - dia 27 de outubro de 2009
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Besouro - o filme
Naqueles tempos pós-abolição nossos negros continuavam tão alijados da sociedade que muitos deles ainda se questionavam se a liberdade tinha sido, de fato, um bom negócio. Afinal, antes de 1888 eles não eram cidadãos, mas tinham comida e casa para morar. Após a abolição, criou-se um imenso contingente de brasileiros livres, porém desempregados e sem-teto. A maioria sem preparo para trabalhar em outros serviços além daqueles mesmos que já realizavam na época da escravatura. E quase todos ainda sem a plena consciência de sua cidadania. O resultado desse quadro, principalmente nas regiões rurais, onde estavam os engenhos de açúcar e plantações de café, foi o surgimento de um grande contingente de negros libertos que continuavam, mesmo anos após a abolição, submetendo-se aos abusos e desmandos perpetrados por fazendeiros e senhores de engenho.
Assim era sociedade rural brasileira de 1897, ano em que Manoel Henrique Pereira, filho dos ex-escravos João Grosso e Maria Haifa, nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano.
Vinte anos depois, Manoel já era muito mais conhecido na cidade como Besouro Mangangá - ou Besouro Cordão de Ouro -, um jovem forte e corajoso, que não sabia ler nem escrever, mas que jogava capoeira como ninguém e não levava desaforo para casa. Como quase todos os negros de Santo Amaro na época, vivia em função das fazendas da região, trabalhando na roça de cana dos engenhos. Mas, ao contrário da maioria, ele não tinha medo dos patrões. E foram justamente os atritos com seus empregadores - e posteriormente com a polícia - que deixaram Besouro conhecido e começaram a escrever a sua imortalidade na cultura negra brasileira.
Há poucos registros oficiais sobre sua trajetória, mas é de se supor que a postura pouco subserviente do capoeirista tenha sido interpretada pelas autoridades da época como uma verdadeira subversão. Não por acaso, constam nas histórias sobre ele episódios de brigas grandiosas com a polícia, nas quais ele sempre se saía melhor, mesmo quando enfrentava as balas de peito aberto. Relatos de fugas espetaculares, muitas vezes inexplicáveis, deram origem a seu principal apelido: Mangangá é uma denominação regional para um tipo de besouro que produz uma dolorosa ferroada. O capoeirista era, portanto, "aquele que batia e depois sumia". E sumia como? Voando, diziam as pessoas...
Histórias como essas, verdadeiras ou não, foram aos poucos construindo a fama de Besouro. Que se tornou um mito - e um símbolo da luta pelo reconhecimento da cultura negra no Brasil - nos anos que se sucederam à sua morte.
Morte que ocorreu, também, num episódio cercado de controvérsias. Sabe-se que ele foi esfaqueado, após uma briga com empregados de uma fazenda. Registros policiais de Santo Amaro indicam que ele foi vítima de uma emboscada preparada pelo filho de um fazendeiro, de quem era desafeto. Já a lenda reza que Besouro só morreu porque foi atingido por uma faca de ticum, madeira nobre e dura, tida no universo das religiões afro-brasileiras como a única capaz de matar um homem de "corpo fechado".
E Besouro, o mito, certamente era um desses.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
É o racismo, estúpidos
O Dep. Luiz Alberto (PT-BA) por sua vez afirmou, em pronunciamento da tribuna da Câmara, que o texto aprovado era “o possível”. E acrescentou: “Em caráter conclusivo, a matéria vai ao Senado Federal, onde também há um acordo para imediatamente se constituir uma Comissão Especial para aprovar o Estatuto, a fim de que o Presidente Lula, ainda este ano, possa sancioná-lo e dar ao Brasil uma oportunidade de se criar uma verdadeira democracia.”
Segundo ainda a reportagem de Bernardo Franco, “o DEM elogiou as mudanças”. Quem conduziu as negociações pelos Democratas foi o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e já se pode bem avaliar a profundidade (e a realidade) da “verdadeira democracia” para a qual se abrem agora todas as oportunidades.
Nublat, aliás, é autora da pérola mais preciosa escrita sobre a versão do Estatuto aprovada ontem na Câmara dos Deputados: “Há também pontos mais práticos, como a possibilidade de o governo criar incentivos fiscais para empresas com mais de 20 empregados e pelo menos 20% de negros.”
Há algumas semanas, a mídia divulgou a discriminação sofrida por Januário Alves de Santana, agredido por seguranças do supermercado Carrefour numa cidade da Grande São Paulo. Todos conhecem a história do homem negro, técnico em eletrônica, que foi acusado de tentar roubar seu próprio veículo, um EcoSport. Acusado e violentamente espancado nas dependências do Carrefour.
Por causa de seus traços fisionômicos, seu fenótipo, e de um conjunto de injunções decorrentes da hierarquização do humano vigente entre nós, Januário vê-se obrigado a rever seu projeto, reduzindo suas dimensões, buscando adequar-se aos limites impostos pelo racismo. Um modelo mais modesto de veículo talvez lhe permitisse acomodar-se aos limites rígidos preestabelecidos, seguramente é o que pensa Januário.
Já sabemos como somos vistos e, a partir desse olhar, como devemos nos definir e conformar nossos projetos. Seria melhor dizer como devemos amesquinhar e reduzir nossos projetos. Sonhos não realizados, esperanças frustradas reafirmando e reforçando a ideologia que previamente nos classificou a todos.
Os parlamentares negros que ontem cantaram e ergueram os punhos fechados e se abraçaram ao DEM, o ministro Edson Santos, a Seppir, a Conen, a Unegro, todos comemoravam no fundo a redução e o amesquinhamento do projeto de Estatuto. Conformaram-se ao “possível”. Confiam que na redução ainda se podem projetar ganhos eleitorais. Vão colher, seguramente, o que plantaram.
sábado, 8 de agosto de 2009
Eu Não Sei Na Verdade Quem Eu Sou - O Teatro Mágico
Composição: Fernando
Anitelli
Eu não sei na verdade quem eu
sou,Já tentei calcular o meu
valor,Mas sempre encontro sorriso e o meu
paraíso é onde estou...
Por que a gente é desse
jeitocriando conceito pra tudo que restou?
Meninas são bruxas e fadas,
Palhaço é um homem todo pintado de piadas!
Céu azul é o telhado do mundo inteiro,
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro!
Mas eu não sei na verdade quem eu sou!Já
tentei calcular o meu valor. E sempre encontro o
sorriso e o meu paraíso é onde estouEu não sei na verdade quem eu sou!
Perguntar de onde veio a vida,por onde
entrei deve haver uma saída,e tudo fica sustentado pela fé
Na verdade ninguém sabe o que é!
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo!
Com água e farinha eu colo figurinha e foto em
documento!Escola é onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração!
Mas eu não sei na verdade quem eu sou.
Já tentei calcular o meu valor, E sempre encontro
o sorriso e o meu paraíso é onde estou!Eu não sei na verdade
quem eu sou!
Percebi que a cada minutoTem um
olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, tem
corpo pegando doençaTem gente trepando no escuro,
tem gente sentindo ausência!
Meninas são bruxas e fadas, Palhaço é um homem todo pintado
de piadas!Céu azul é o telhado do
mundo inteiro,Sonho é uma coisa que fica
dentro do meu travesseiro!
Eu não sei na verdade quem eu sou, Já tentei calcular o meu
valor,Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Eu não sei na verdade quem eu sou.
Fonte da letra : http://letras.terra.com.br/o-teatro-magico/441013/
sábado, 25 de julho de 2009
Lixo exportado da Inglaterra para o Brasil será devolvido
Os contêineres de lixo exportados ilegalmente pelo Reino Unido para o Brasil serão reembarcados e devolvidos para o porto de origem, na Inglaterra. Em operação do Ibama, 41 contêineres de resíduos sólidos foram lacrados ontem no Porto de Santos, em São Paulo. As seis empresas envolvidas na importação, o consolidador, que realiza o carregamento, e os compradores da carga foram autuados por crime ambiental e multados em R$ 2,5 milhões de reais.
sábado, 18 de julho de 2009
Disque Denúncia chega a 100 mil registros
Nº 848 - Brasília, 17 de Julho de 2009.
terça-feira, 7 de julho de 2009
Ibama encontra 290 toneladas de lixo vindas da Inglaterra no Porto de Santos
Os contêineres chegaram ao Brasil na última semana, mas só foram abertos na segunda. Uma equipe do Ibama foi até o local para verificar a carga, e levou um susto quando as portas foram abertas. “Isso é um desrespeito com o nosso país, nós não somos o lixão do mundo”, disse uma fiscal.
O lixo doméstico dos ingleses passou por vários países antes de chegar ao Brasil. No Porto de Santos, foram 16 contêineres com 290 toneladas de lixo. Em uma primeira vistoria, os fiscais do Ibama encontraram resíduos de alimentos, cabos de computador, travesseiros molhados e muitas embalagens sujas de produtos de limpeza.
“Nós recebemos uma denúncia do Porto de Rio Grande, porque existia uma carga similar, até mais do que aqui. Então eles pediram para nós verificarmos essa carga da mesma empresa. É um absurdo, um desrespeito com o Brasil”, conta Ingrid Oberg, chefe regional do Ibama.
A empresa importadora e a transportadora foram notificadas. Cada uma terá que pagar R$ 155 mil de multa. O Ibama ainda deu um prazo de 10 dias para que essas empresas devolvam o lixo ao país de origem.
Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, fiscais da Receita Federal encontraram 750 toneladas de lixo no Porto de Rio Grande. O material também foi trazido por navios da Inglaterra e teria sido enviado no lugar de produtos importados por uma empresa gaúcha.
Dentro dos contêineres trazidos ao Brasil pelos ingleses estavam toneladas de plástico, papel e vidro, além de seringas e preservativos. Um dos reservatórios levava brinquedos, com bilhetes informando: “Entregue estes brinquedos para as crianças pobres do Brasil. Lavar antes de usar”.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Campanha por uma internet segura

Eu acesso com segurança, pois:
- Não aceito arquivos de estranhos;
- Evito comprar em sites não conhecidos;
- Evite expor dados pessoais em sites de relacionamento;
- Monitoro e oriento, sempre que possível, crianças e adolescentes no uso da internet.
PEÇA a Nota Fiscal: a Educação Agradece

Esquecer de pedir nota fiscal no momento da compra pode afetar diretamente a qualidade da educação pública brasileira. A afirmação pode soar estranha em um primeiro momento, mas especialistas ouvidos pelo JT* ressaltam que a relação causa e efeito é fácil de demonstrar.
Segundo César Augusto Minto, presidente da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), a afirmação não só é verdadeira, mas tem sido ponto norteador das ações do Comitê em Defesa da Escola Pública, órgão não-governamental formado por professores dos ensinos básico e superior, alunos e representantes de entidades ligadas à educação. A sociedade ainda desconhece que a verba destinada à educação pública provém do repasse de um porcentual dos impostos pagos pelos próprios cidadãos, afirma.
O educador ressalta que cabe ao cidadão atuar de forma direta contra a sonegação de impostos. Ao criar o hábito de pedir nota fiscal, independentemente do valor da sua compra, o cidadão já estaria contribuindo para uma educação pública de qualidade , diz Minto.
Entretanto, Minto desafia os empresários. De nada adianta uma empresa realizar projetos sociais voltados à educação se ela sonega impostos ou não contrata seus funcionários de forma legal.
Fernando Almeida, ex-secretário municipal de Educação, também destaca a importância da conscientização da sociedade. Não é novidade que a sonegação de impostos afeta diretamente o repasse de verbas para a educação, mas o cidadão tem de lembrar disso sempre que realizar suas compras.
Entretanto, Almeida ressalta o fato de que a verba repassada para a educação também é utilizada para o pagamento de professores, inclusive os aposentados. A verba da educação pode ser alta, mas os gastos com folha de pagamento também são altíssimos.
Na prática
A explicação deste cálculo é simples, pois 75% do valor arrecadado com o ICMS ficam com o governo estadual. Então, 30% destes 75% do ICMS apropriados pelo governo representam o valor exato repassado para a educação.
A coordenadora conta que usou o exemplo da balinha, que funcionou para conscientizar alunos que vinham degradando o material recebido na escola. Chamei todos para conversar e expliquei que, ao comprar uma balinha, o cidadão já contribui de forma direta com a educação pública. Eles não faziam idéia dessa relação. Acho que cabe à escola pública conscientizar pais e alunos sobre a importância da exigência de nota fiscal, diz.